sexta-feira, 8 de abril de 2011

Herbert quer um salário maior

Por incrível que pareça, essa história é verdadeira

Herbert era um cara dedicado. Corria atrás das coisas com vontade e estava sempre em busca de um salário decente. Ele recebia na empresa que trabalhava em torno de 1000 reais pelo seu suado trabalho de marketing. Pode não parecer, mas o marketing faz suar. Profissionais de marketing geralmente trabalham ligados no 220v, não almoçam e muitas vezes não dormem. Não é a área mais saudável de trabalho. Por exemplo o cultivo de batatas, oferece muito mais tranquilidade e longevidade do que o marketing.

Mas Herbert havia caído ali meio que de pára-quedas, e foi aprendendo e fazendo bem seu trabalho. Herbert trabalhava muito bem, na verdade. Era um profissional de pensamento rápido e idéias inteligentes. Foi assim que ele conseguiu seu tão glorioso salário de 4 dígitos - ainda que fosse o menor possível dentro deste seleto grupo.

Eis que um dia Herbert foi chamado pra uma entrevista. A entrevista era numa empresa de Rh terceirizada. Empresas grandes costumam tercerizar seus RHs para não terem o trabalho de entrevistar muitas pessoas. Herbert não gostava desse tipo de processo seletivo, pois, geralmente, envolviam várias etapadas que iam desde dinâmicas de imitação de macacos à testes psicotécnicos práticos. Todos, é claro, em dias diferentes e em horários terríveis para quem já está trabalhando. Resolveu então deixar o dinheiro falar mais alto: "Quanto paga?". A resposta foi um sonoro, ecoante e emocionante: "2... Mil... reais!". Resolveu então apostar na entrevista. Marcou no horário mais cedo possível, assim poderia ir correndo pro trabalho depois. Certamente chegaria alguns minutos atrasado, mas uma boa desculpa como: "minha carteira caiu no bueiro" ou "acordei com dor de barriga" resolveria tudo.

Foi na entrevista e foi bem. A moça do RH terceirizado até o elogiou. Pediu então pra ele retornar outro dia para a próxima fase. Após aquela, disse ela, ele iria para a final, direto na empresa. Saiu de lá e correu para o trabalho. Chegou em torno de 30 minutos atrasado. A desculpa da carteira pareceu convencer seu chefe que deu uma risadinha de alívio como quem dizia: "ainda bem que não foi comigo".

Na etapa seguinte, Herbert foi bem novamente. Saiu de lá e pegou um táxi para chegar no trabalho. A corrida saiu em torno de R$30. Uma conta inesperadamente pesada pra quem vive com a bagatela de mil reais por mês. Tudo bem, ele pensava, quando eu dobrar meu patrimônio para dois mil reais, poderei pegar quantos táxis eu quiser. Alguns dias depois a moça do RH ligou novamente. Dessa vez ela marcou sua proxima entrevista diretamente na empresa. Segundo ela, era a fase final. Depois daquilo seria só alegria. Herbert mal pode esperar.

Quando chegou na empresa, com 20 minutos de antecedencia, aproveitou pra observar o prédio monumental onde a empresa estava instalada. Trabalhar ali devia ser coisa pra poucos. Mas Herbert era bom. Sabia disso ao olhar-se no espelho do elevador e dar um sorriso para si próprio. Logo usaria aquele elevador todos os dias. Ao entrar na empresa, foi recebido por uma garota que apresentou-se como sendo o RH da empresa. Pediu para ele preencher umas fichas, escrever 2 ou três redações com o tema: "Por que quero trabalhar aqui" ou "Quão grande é o universo" e logo depois o entrevistou. Durante a entrevista, a garota informou - para a tristeza de Herbert - que ainda haveriam mais 2 etapas. Tudo bem. O salário compensava as etapas burocráticas e as redações filosóficas. Quando tudo parecia perfeito, a garota fez a pergunta marcante: "Qual sua pretensão salarial?". Herbert achou estranho, mas disse o mesmo que sabia estar combinado desde o começo: "2 mil reais". A expressão da garota revelou um pensamento do tipo: "Não é bem assim que as coisas funcionam" enquanto ela se preparava para dizer: "Está um pouco acima do que pretendemos pagar. Nossa vaga é para um salário de oitocentos reais".



A garota ainda tentou convence-lo à ficar para a dinâmica, ou ao menos para tomar um cafézinho por conta da empresa, mas Herbert a partir daquele momento não conseguia raciocinar corretamente. Tudo em que ele acreditava estava desmoronando junto com todo seu tempo perdido e salários promissores.

E assim ele voltou correndo pro trabalho...

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Situações inusitadas no mundo corporativo

No mundo corporativo, somos surpreendidos com situações inusitadas onde temos que dar o famoso jeitinho brasileiro para conseguir alcançar nossas metas pessoais:
Veja alguns relatos de pessoas que ouvem coisas que cá entre nós ninguem merece!

Tem aquela situaçao de boa recomendação:

Em uma entrevista de emprego, o Selecionador da empresa pergunta:

- Por acaso o senhor tem alguma recomendação da empresa onde trabalhava?
- Claro que sim!
- E qual é essa recomendação?
- Eles me recomendaram que procurasse outra empresa!

Complicado né? tem também aquela situação que o sujeito quer pedir um aumento de salário:



O sujeito reclama do baixo salário que recebe e resolve reclamar com o patrão:
- Meu salário não está compatí­vel com as minhas aptidões!
- Eu sei, eu sei – responde o chefe. – Mas não podemos deixar você morrer de fome.

Existe também o verdadeiro puxa saco, este faz de tudo para subir na empresa a custas de paparicação dos chefes veja uma situação de puro puxa saquismo:

O empregado chegou para o patrão e disse:


- Chefe… Nesse mundo só existem duas pessoas a quem eu dou minha vida!
O chefe pergunta:
- Deve ser sua mulher e seu filho, correto?
O empregado responde:
- Não. A primeira pessoa é o senhor…
- Nossa! Muito obrigado… E a segunda?
- Quem o Senhor indicar!

Ve se uma criatura dessas não merece levar uns bofetes na cara!

Há também aquela situação que você é pego de calça curta mas com um pouquinho de criatividade você pode surpreender e dar uma resposta criativa:

É o caso do astolfo que foi pego dormindo e serviço e soltou a pérola

- Não estou dormindo não, chefia! é que o meu serviço é tão fácil que eu faço de olhos fechados!

É por isso que digo, seja criativo e leve as situações que parecem dificeis com bom humor e jogo de cintura.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Fernando, o Estagiário em: O Veredito Final

Por incrível que pareça, essa história é verdadeira

Estava sol e a hora do almoço se aproximava dando continuidade à um dia bastante agradável. O céu estava azul, fazia um calor gostoso e Fernando acabara de receber uma ótima notícia. Enquanto ele voltava do almoço, seu celular tocou e era uma moça de RH. É sempre bom receber ligações de moças do RH, porque ou elas te chamam pra fazer uma entrevista ou te ligam pra avisar que você foi contratado. Caso contrário elas nunca ligam. Nunca. Mesmo quando avisam, quando juram de pés juntos que te darão um retorno positivo ou negativo - e elas dão uma certa ênfase à esse "negativo" - mesmo assim engana-se quem fica na espera. Fernando não ficava, pois já estava acostumado aos silenciosos pés-na-bunda causador pelo RH. Uma vez uma certa alma boa lhe enviou um e-mail dizendo que ele havia sido recusado. Fernando nunca se esqueceu desse ato nobre único. Mas nessa história a ligação trouxe a notícia de que Fernando havia passado na dinâmica de grupos e havia sido qualificado para a etapa final do processo seletivo. Fernando se sentiu muito bem com a notícia. Quem não gosta de ser aprovado numa dinâmica, mesmo que ninguém jamais entenda pra quê cazzo que elas servem?

Fernando retornou ao seu local de estágio com um sorriso no rosto. Ele trabalhava lá havia 4 meses, porém ganhava muito pouco. Estagiários ganham mal por natureza, mas "capricharam" no salário de Fernando. Não pega nem bem citá-lo nessa história. Mas agora tudo seria melhor. Fernando já havia passado pela entrevista inicial com a empresa consultora em RH, e depois, na dinâmica de grupos (que envolvia pelo menos 30 pessoas) havia obtido sucesso novamente. O pior já foi e ele sabia disso. Agora seria tudo mais fácil. Ele seria entrevistado por um profissional da mesma área, um designer gráfico de verdade, que pensava como ele, que tinha imaginação e disposição como ele. Fernando mal podia esperar pela entrevista. Terminou o dia de trabalho no escritório, chegou em casa e caprichou no portfólio. Separou os melhores trabalhos, a melhor roupa e preparou tudo para o horário certo do dia seguinte. Diria no estágio que chegaria alguns minutos atrasado, pegaria o metrô a duas quadras de sua casa, direto pro local e então tudo de bom lhe aguardava: um salário melhor, e benefícios maravilhosos jamais sonhados para estagiários como vale transporte e vale refeição.

Falando em metrô, Fernando iria trabalhar em um órgão público! Olhe só que chique. Isso mesmo, a entrevista era para fazer parte da equipe de designers de um órgão do governo de São Paulo. Era um estágio, mas ainda assim tinha muita glória.

No dia seguinte, mais um dia de sol e Fernando chegou ao local com meia hora de antecedência. É pedido que ele aguarde na recepção. Enquanto espera aparecem mais candidatos - aqueles que passaram na dinâmica também, observa ele. No total chegaram mais 4 garotos, nenhum deles era o tipo "Sabe-tudo-que-vai-pegar-a-vaga", para a alegria de Fernando. Apesar dos outros rapazes serem muito legais, ele estava confiante em si próprio. Se uma dinâmica envolvendo mímica e jogo-da-velha de olhos vendados não o parou, nada mais pararia.

Após 1 hora de espera, o que não significa absolutamente nada na vida de estagiários, quanto mais a aspirantes a estagiários, os cinco jovens designers foram chamados. Ao entrarem na sala uma mulher por volta de seus 50 anos dita as regras, curta e grosa: "Olá, temos apenas uma vaga. Para trabalhar efetivamente aqui, apenas com concurso público. Não se animem, pois o contrato é de 6 meses apenas sem chances de efeticação". Não é preciso dizer que Fernando e todos os concorrentes-amigos não gostaram muito de ouvir aquilo, mas logo ela compensou um pouco: "Além da bolsa auxílio, o estagiário terá passe livre pelo metrô e vale refeição. O expediente é de 6 horas". Pronto, agora sim, pensou Fernando, trabalhar 2 horas a menos e dobrar o patrimônio, isso sim era um belo salto em sua curta carreira até então. A moça do RH finalizou: "Peço que preencham essa ficha e me entreguem junto aos seus currículuns" e saiu da sala em seguida.

Fernando preencheu todos os dados e até caprichou na letra. Não queria estragar nada. No local onde perguntava o tipo de condução utilizada sentiu orgulho ao citar que precisaria de apenas um tíquete de metrô. Tudo para facilitar e disponibilizar o quanto antes suas habilidades aos selecionadores.

Passados 5 minutos a mulher entrou na sala, recolheu as fichas e disse: "Agora peço que saiam pois vou avaliar alguns dados aqui. De vocês, selecionarei apenas 3 para a entrevista".
Epa, aquilo estava começando a cheirar mal. Na tão agraciada ligação por telefone, a moça do RH havia sido clara em informar que aquela seria, de fato, a entrevista final. Como assim selecionar apenas 3? "Viemos aqui pra preencher uma ficha?", perguntou-se Fernando, impotente. Decidiu não se estressar com isso e passou os 5 minutos aproveitando o luxo de uma máquina de café gratuita, coisa inimiginável no mundo em que estava acostumado.

A senhora então chamou-os para entrar. Entraram os cinco meio sem-jeito e sentaram-se. "Roberto?", disse a moça. Todos ficaram imóveis, o Roberto e os não-Roberto. Todos aguardando o pior. "Você esqueceu de me entregar o currículum quando solciitei...". O tal do Roberto apressou-se a entregar a folha com um inaudível "Desculpe" de brinde. O silêncio permaneceu total por mais 10 segundos. 10 longos segundos de tensão e suor frio. Até que a senhora quebrou o silêncio novamente dizendo: "Paulo..." Todos ficaram duros novamente aguardando o pior. E agora? Mais um aviso? Ele foi selecionado? Foi descartado? Ela então continuou: "e Fernando...". "Ai meu Deus!", pensou Fernando, "Fudeu! É agora... ou vai nos escolher ou nos mandar pra fora. O que eu faço? O que será de mim?". Esse e mais outros 32 pensamentos passaram pela cabeça do pobre garoto no intervalo de 4 segundos - prova substancial de que os estagiários pensam muito rápido - até a senhora completar: "Vocês foram excluídos devido à questões de localidade. Obrigado e podem se retirar".

Fernando ficou sem palavras. Foi como um relâmpago na cabeça. Não conseguiu nem mandar aquele patético: "Como assim?" que não resolveria nada de qualquer forma. Caminhou pelos corredores para fora da empresa sem conseguir esboçar uma expressão facial definida. Estava dividido entre o ódio mortal e a indignação. Essa mistura de emoções provocou uma involuntária desatenção completa contra tudo a sua volta. Não viu quando os outros dois também desafortundados se desviaram no caminho silencioso e enfadonho. Fernando não conseguiu pensar em nada até chegar ao trabalho. Não conseguiu pensar no grande papel indigno de realmente ter ido até ali "apenas para preencher uma ficha", como havia colocado antes. Nem conseguiu pensar que a questão da localidade poderia ter sido resolvida antes mesmo da seleção dos curriculuns. Nem que ele havia passado por 2 etapas que realmente exigiram algo dele, sendo uma delas uma terrível dinâmica. E o mais importante, não conseguiu lembrar nem que morava a duas quadras da estação do metrô.

Quando recuperou a lucidez, alguns dias depois, achou a respota óbvia que trazia sentido praquele episódio bizarro: "Era uma vaga de estágio..."

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Seu Madruga. Um exemplo de empreendedor

O mundo globalizado, exige do profissional dinamismo, pró atividade e uma capacidade de exercer muitas funções. Diga se de passagem que o grau de dificuldade exigido nas dinâmicas de grupo tem aumentado cada vez mais. Hoje em dia não basta dizer respostas "enlatadas" prontas e sim, ser dinâmico. Até para se digitar um texto você precisa estar com a macaca (literalmente, veja o exemplo de uma amigo nosso que teve que imitar um macaco numa dinâmica de grupo, e por nao ter parentesco com o king kong não foi aprovado).Mas vou falar de uma figura caricata e muito querida por nós brasileiros.
Sr. Madruga. Este distinto senhor de uma sabedoria plena e autor de frases memoráveis era uma pessoa tida como vagabundo pelos seus vizinhos, mas era um emprendedornato! O mundo te julga pela aparência, e pelo simples fato de ele usar a mesma roupa todos os dias era tido como sem vergonha e inadimplente(afinal o que são 14 meses de aluguel atrasado).
Acho que as revistas e livros que abordam empreendedorismo e auto ajuda deveriam mudar um pouco o foco de suas estrelas de sempre como Steve Jobs, Bill Gates e focar neste distinto senhor; que Deus o tenha.
Criar temas como:

SEJA VOCÊ UM SEU MADRUGA, E TENHA O EMPREGO QUE QUISER!
CRISE FINANCEIRA? DESEMPREGO? NÃO PARA ESTE HOMEM, SEU MADRUGA O HOMEM DO ANO.
DESPERTE O SEU MADRUGA DENTRO DE VOCÊ.
O SEGREDO. Prefácio de seu Madruga
A ARTE DE NÃO PAGAR O ALUGUEL (Do mesmo autorde A arte da guerra)
MINUTOS DE SABEDORIA (Pensamentos de seu Madruga)

Abaixo estão algumas profissões que seu Madruga exerceu. São tantas profissões que decidimos eleger algumas delas na carreira deste Senhor:

7. Barbeiro:
Ja foi barbeiro, aposto que Silvio Santos ia adorar ter um barbeiro deste nivel cuidando de sua estética(fígaro).

6. Professor:
Quem não se lembra da execelente aula que ele deu na ausência do professor Girafales. Utilizando se de técnicas avançadas de oratória, conseguiu prender a atenção dos alunos. Além de se utilizar de uma pronúncia impecável explicando o significado da caveira. (prerigo!!!). Acho que nosso presidente teve umas aulinhas com ele.

5 . Vendedor Ambulante
Quem não teve medo do Homem do Saco? Com o Kiko e o Chaves não foi diferente e o pior que o “Homem do Saco” era o Seu Madruga, tentando pagar um dos 14 meses de aluguel que devia.(chapéus, sapatos, roupas usadas quem tem?)

4 . Boxeador
O homem com multi-funções ataca novamente, desta vez ensinando o Chaves a lutar boxe… o que não dá muito certo .

3 . Advogado de Defesa
O gato do Kiko não conseguiu escapar da morte, já o Chaves conseguiu um ótimo advogado de defesa (ou não), de qualquer forma o Chaves fica livre no final do episódio ao, ligeiramente, acusar o Professor Girafales de estar olhando uma outra mulher.

2 . Toureiro
Um dos maiores investimentos de todo o seriado, um touro mecânico manual de brinquedo… enquanto a criançada brincava com a tranqueira, Seu Madruga relembrava os velhos tempos onde era toureiro, ficou na memória.

1 . Empresário de jogadores de ioiô
Sem dúvida este foi o maior emprego da vida do grande Seu Madruga, contratou profissionais do ioiô a fim de conseguir lucrar com seus dotes empresariais em cima do bem estar e entretenimento alheio. Ganha o primeiro lugar por insistência, força e dedicação.

Frases do Seu Madruga

“Eu sabia que você era idiota, mas não a nível executivo!
“Que que foi, que que foi, que que há? Digo…”
“Não há nada mais trabalhoso do que viver sem trabalhar!”

“A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena.”
“Não existe trabalho ruim. O ruim é ter que trabalhar.”

“Mas tinha que ser o Chaves mesmo!”

“As pessoas boas devem amar seus inimigos.

“Isto é uma caliúnia! Uma caliúnia! Você sabe o que é uma caliúnia?”

“Por 100 mangos eu posso até ser a madrinha do casamento!”

“Só não te dou outra porque…”

“Puxa, repuxa, recontrapuxa!”
Não há luta pior do que aquela que se enfrenta.”

“Lembre-se que eu sou um velho lobo do mar…”
“Chaves vai ver se a porca do vizinho botou um ovo!”

“Somente as pessoas ruins sentem prazer em ver o sofrimento alheio”

“Chaves, a diferença entre as duas Alemanhas é simples, é que de um lado se toma Vodka, e do outro cerveja.”

“Não estou triste porque não arranjei emprego. Estou triste porque consegui arranjar.”

“É como se fosse naquele programa, pé de mais um”

“Você sabe quanto custa trazer um artista do estrangeiro? Ainda mais sendo de outro país?”

“Claro! São todas iguais, primeiro amor, amor, amor! Depois vem a cacetada!”

“Chapéu, sapatos ou roupas usadas quem tem!”

“Essa caveira significa prerigo! PRE-RI-GO!”

“São todas Iguais, primeiro ficam com o chapéu, depois acabam ficando com a carteira.”

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Ubiratam

Texto de Caio Guilherme, originalmente publicado no blog Blues Literário, reproduzido aqui com permissão do autor.

Hoje eu acordei cedo. Um pouco antes do telefone tocar. Não, não é meu telefone que toca. O telefone é de Ubiratam e está tocando às 08h20min. Eu acordei um pouco antes disso, mas devo concordar com Ubiratam, é cedo demais. A pessoa do outro lado da linha, consultora de Rh, não se importa se Ubiratam está ou não dormindo, se ele quiser um emprego terá de acordar e atender sem nenhum embargo na garganta. E é isso que ele faz.

Submisso ele escuta dizeres em tom imperativo. Esteja lá às 10 horas para o cliente te entrevistar. Tome um banho, imprima um currículo e use roupas sociais, vá bem vestido. Nosso herói não possui roupas em sua melhor forma. As velhas camisas, herdadas do pai e do irmão mais velho, estão encardidas, amassadas e puídas, mas Ubiratam toma uma para si e a veste. A calça mal cabe e possui vincos que dariam inveja a Cordilheira dos Andes. Não há tempo de tomar café da manhã ou qualquer outra coisa, ele está redondamente atrasado e terá de torcer para que o ônibus e o trânsito de sua cidade colabore.
Despreocupado vejo Ubiratam correr atrás do ônibus. Não sou eu e nem a mocinha do Rh, que esqueceu de ligar para ele no dia anterior, quem necessita desse emprego. Quem precisa vender 8 horas do seu dia por R$ 400 é ele. Ao subir no ônibus sua camisa manifesta grandiosas e oceânicas manchas de suor. Este secará no contato abusivo e forçado com os outros corpos na lata de sardinha. O resultado, uma camisa mal seca e amarrotada.
10 horas e 15 minutos, Ubiratam chega no escritório do cliente. Um lugar limpo, higiênico e esterilizado. Um bom lugar para trabalhar, uma firma de advogados. Atrasado ele recebe uma bronca da recepcionista. 5 minutos antes a própria mocinha do Rh ligara para reclamar do atraso dele e o ameaçara dizendo que isso não se fazia, que aquilo poderia prejudicar a empresa e ela mesma. Que, ao contrário do tempo dele, o tempo do cliente valia ouro e brilhava com oportunidades. Caso houvesse outra chance, e ela deixou bem claro seu pessimismo quanto a possibilidade do mundo de trabalho se interessar por Ubiratam, ele não deveria mais se atrasar tanto. Entrou pelo corredor que a recepcionista lhe indicou, de forma indiferente, depois da bronca. Nele um punhado de sujeitos, irmãos de Ubiratam, feitos na mesma forma de Ubiratam, vários Ubiratans em versões não tão variadas, esperavam desde às 9 horas e 30 minutos. O atraso, pelo qual fora tão censurado, de nada valia e em nada atrapalhava a rotina importante do cliente, da famosa e grandiosa firma de advocacia, estéril e cujos segundos valem ouro.

Uma porta é aberta. Todos são chamados para entrar. Dinâmica de grupo. Um adesivo é colocado nas costas de Ubiratam e ele tem de fazer perguntas, cujas respostas podem ser somente sim ou não, para tentar descobrir quem ele é. Quando o adesivo em suas costas, colocado por uma senhora do Rh, lhe disser quem ele é, ele devera sê-lo em frente a todos ooutros. Devera imitar a “si mesmo” para, dessa forma, ser avaliado. Um não pode sabotar o outro, são todos concorrentes, mas todos devem trabalhar em equipe para que somente um, o tão sortudo um, consiga a vaga. Desse monte de Ubiratans em competição e colaboração pela vaga, só o mais perfeito deles conseguirá ganhar os R$ 400 mensais e, com sorte, substituir parte de suas camisas amassadas, encardidas e puídas.

Nosso Ubiratam questiona para um dos seus irmãos:

“Eu sou um homem?”

“Não, não é.”

“Uma mulher?”

“Não.”

“Eu não sou gente, então?”

“Não.”

“Como? Não, eu não sou gente ou sim, você não é gente? ”

“Não.”

“Explica melhor. Eu sou ou não sou?”

“Você não é.”

“Sou um objeto?”

“Não, não é.”

“Um animal?”

“Sim, você é um animal.”

“E o que eu como?”

“Não.”

“Como eu não como?”

A senhora do Rh intervém no brilhante interrogatório de Ubiratam:

“Não se esqueça que as resposta só podem ser sim e não. Ao invés de perguntar o que você come, chute o que você come, entendeu?”

Ubiratam demorou alguns segundos para responder que sim. Esse monte de afirmações, negações, sugestões, Ubiratans e ordens, estavam lhe enlouquecendo.

“Eu como batata?”

“Não sei.”

“Eu como carne?”

“Não, acho que não.”

“Frutas?”

“Sim.”

“Qual?”

“Ele não pode te responder isso. Esqueceu?” – Interveio novamente a senhora do Rh. Ubiratam balançou afirmativamente a cabeça e pediu desculpas encabuladas. O oceano de suor, extinto no ônibus, voltava a brotar de seus poros e já causava algumas desagradáveis manchas debaixo dos braços.

Cansado daquela brincadeira estúpida, Ubiratam chutou:

“Eu como bananas?”

“Sim, você come bananas.”

“Eu sou um macaco?”

“Sim, você acertou.”

A senhora do Rh entusiasmadamente aplaudiu nosso Ubiratam. Entre todos os outros, ele foi o primeiro a se descobrir. Ela chamou a atenção de todos e ordenou que Ubiratam desse seqüência no teste.

Envergonhado, o primeiro dentre todos eles, imitou a si mesmo, imitou aquilo que a senhora do RH disse que ele era: um macaco.

Pulos e gritos, coçadas de cabeça. Empenhado, ele se lembrou de todos os desenhos com macacos e os imitou muito bem. Todos, inclusive a senhora do Rh, riram. Ele não gostou daquilo. Passado este teste, foi encaminhado para uma outra sala. Nela perguntas sobre seu mal feito ensino fundamental, suas árduas tarefas anteriores e irrealizáveis sonhos foram feitas. Nessa última pergunta, Ubiratam não conseguiu apresentar respostas claras. Objetivos de vida. Seqüência estranha de palavras. Não sabia que precisava ter sonhos e esperanças para digitar documentos na firma de advogados. Devem ser documentos realmente fantásticos para poderem ser só respondidos por alguém com objetivos e possibilidades. Ubiratam ganhou um sonho nesse dia: ser alguém com sonhos e grandes esperanças. O dia mais feliz de sua vida seria aquele em que poderia sonhar.

A entrevista terminou e Ubiratam foi para casa. Pensou em comprar uma coxinha num bar perto do escritório, mas não tinha dinheiro. A comida naquele bairro era muito cara. Foi para casa e atendeu eu telefone logo que chegou. A mocinha do Rh, aquela da primeira ligação, lhe disse que, como ela previra, Ubiratam não passou. Não soube bem imitar um macaco, um simples macaco. Ubiratam se envergonhou e chorou ao desligar o telefone. Era humilhação demais para viver. Ligou a Tv e passou as próximas horas vendo desenhos e filmes com macacos, iria aprender. Nem jantou naquele dia.

Nunca mais segui um dia de Ubiratam em minha vida. Nem sei qual dos vários e não tão variáveis e anônimos Ubiratans conseguiu a vaga. Só sei, caro Ubiratam, – e esse finzinho digo para você e só para você - que imitar macacos é realmente muito difícil, não se sinta mal. Aposto que, assim como você, muitos daqueles seus concorrentes não conseguiram imitar aquilo que a Senhora do Rh disse que eram. A vida é assim mesmo, cheia de confusão e perguntas estranhas. Os ônibus lotados vão e voltam cheios de trabalhadores, alguns trabalhando e outros lutando por seu lugar ao sol, gritando como macacos em mil e uma entrevistas de empregos, inventando sonhos e esperanças para passar nas entrevistas. Não tenhas dúvidas, meu amigo Ubiratam, uma hora ou outra, sua vez nesses lotados ônibus irá chegar e você terá seu lugar sob o ardente sol do meio dia.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Profissões inúteis

Acho interessante o leque de profissões que nos deparamos hoje em dia. São tantas profissões; mas hoje vou falar de uma profissão que acrescenta muito à nossas vidas.
Essa profissão é a de miss Universo

Achei bem interessante. Afinal, concursos de beleza sempre me chamaram a atenção. Não só pelo fato de ter um bando de mulheres bonitas vestidas em trajes sumários ( se fosse por isso, eu me contentaria assistindo apenas o SuperPop), mas também pelas bizarrices promovidas.

Primeiro que não consigo entender quem sobrevive por ser bonita ou bonito. Que raio de profissão é essa em que o currículo vem com as suas medidas? Imagina isso numa empresa:

- Legal Adamastor. Sua experiência com Energia Nuclear é ótima. Mas 130 de quadril não é muito?

O pior de tudo é que ser bonito(a) é o único emprego que não depende só de você. Se pensar bem, todas essas modelos vão depender a vida inteira dos pais para sobreviver. É genético. Se o tempo estragar os pais, com certeza vai estragar também os filhos. O maior terror de um modelo, por exemplo, deve ser ver o pai ficando careca.

Aliás, será que uma criança pensa nisso?

-Mãe, quando eu crescer, quero ser Miss Universo. Vou andar pra lá e pra cá acenando.

-Que ótimo, minha filha. Sabe aqueles livros de Matemática que papai te deu? Coloca sobre a cabeça e tenta desfilar.

Mas não ache que isso basta. Assim como qualquer profissão, na de BONITA também é possível evoluir. Se para um administrador existem cursos de especialização, para uma Miss existem cabeleireiros. Se existem pós-graduações, para uma Miss existe academia. Já o Pitanguy é uma espécie de MBA.

Enfim, nesses dias eu tava lá assistindo o Miss Universo e várias dúvidas começaram a pintar. Primeiro: qual o sentido desse nome? Miss UNIVERSO. Do Miss Brasil a pessoa devia ir para o Miss Mundo, Miss Planeta Terra, sei lá. Daí vencendo essa competição aí sim é que ela deveria ir pro Miss Universo. Aliás, pra esse nome fazer sentido teriam que colocar uma venusiana, uma marciana. No mínimo a Preta Gil, sei lá.

Outra coisa que não entendo é o julgamento. Se é pra ganhar a mulher mais bonita do universo, por que demoram tanto tempo pra elegê-la? Bastava uma foto 3 por quatro e acabou. Fim. Mas não, tem desfile de roupa de gala, tem perguntas e respostas, tem elas falando do Pequeno Príncipe (livro favorito) e o pior: uma apresentação para mostrar o seu dom para os jurados. Como assim dom? Que critério é esse pra ver quem é a mais bonita? Mudaria alguma coisa?

- E a vencedora do Miss Universo é a candidata de Ihas Mauricio porque soube como ninguém processar dados logaritmos e sabe qual é a capital de seu páis (pergunte a qualquer uma delas algo relacionado a geografia, vão querer procura no google maps).

Aliás, no quesito beleza, como que julga a mulher mais bonita? Muda muito de um homem pra outro. Por exemplo, se colocam o Roberto Carlos de jurado, ganharia uma gordinha, baixinha, de óculos. Se colocam o Giannechini de jurado, ganharia uma mulher mais velha. Se colocam o Vitor Fasano, ganharia o apresentador.

Outra coisa que não entendo é a postura das candidatas. Para ser a mais bonita do Universo tem que ser também a mais tonta? Sempre sorrindo e dando tchauzinho? É muito falso. Se é pra ver quem é simpática de verdade, coloca as candidatas ao lado de uma menina de telemarketing da Telefônica. Aí eu quero ver quem é meiguinha de verdade.

Ok, vai aparecer alguém aqui falando que o título de Miss Universo é importante pra humanidade. Que elas vivem envolvidas em questões sociais e blá blá blá. Agora me explique como ela faz isso. Chega num país africano e acena pra população? Tipo, olhem como eu sou bonita e vocês não. Daí ela dá uma desfilada com sua faixa, abraça uma criança faminta no vilarejo e da uma de brinde uma bola jabulani e vai embora? O que Será que os africanos pensam?

-Nooooossa que menina linda. Até perdi a fome.

Parece até que a idéia é incentivar os salões de beleza de Angola, Nigéria e afins. As mulheres de lá devem olhar pra magreza da Miss e pensar: se ela consegue morrer de fome e ser linda, por que eu não conseguiria?

Em vez dessa futilidade toda, podiam criar o Médico Universo, o Dermatologista Universo, o Cozinheiro Universo. Daí o melhor de cada categoria aí sim iria pra África ajudar o povo carente. Agora, eleger uma miss pra se preocupar com as questões da ONU é pedir muito. Não pela capacidade da miss. É mais porque preocupação causa rugas.

Fernando, o estagiário

Por incrível que pareça, essa história é verdadeira

Fernando acordou cedo aquele dia. Tinha uma entrevista marcada para as 9h e não se atrasaria. Não mesmo, pois a bolsa auxílio que ofereciam era quase o dobro do que costumavam pagar aos estagiários da área de design. Isso não quer dizer muita coisa realmente, mas que motivou o garoto, ah, isso motivou. Ele era um jovem garoto de recém-completados 18 anos. Não tinha muita experiência na vida nem pessoalmente, quanto mais profissionalmente. Mas a chance de ganhar aquele salário aparentemente generoso - ainda que desprovido de qualquer outro tipo de benefício existente - despertou vontade de vencer em Fernando.

Assim ele saiu de casa por volta das 7h30 e pegou o ônibus com destino ao parque do Ibirapuera. A sensação de poder trabalhar perto daquele verde também ajudava a impulsionar o jovem designer. Não é qualquer um que tem a honra de trabalhar num dos maiores pontos com natureza de São Paulo. Quanto mais um estagiário... Será que descontariam algum valor da bolsa auxílio por esse pequeno luxo? Fernando esperava que não.

Depois de meia hora, chegou à uma pracinha que tinha como referência para o endereço da empresa. Resolveu checar se estava tudo ok: camisa pra dentro, cabelo penteado, hálito bom e, claro, celular desligado. Fernando ouvira histórias terríveis à respeito de toques de celular durante a entrevista. Histórias envolvendo meninas que saíam da sala chorando e entrevistadores com risadas malígnas. E Fernando não queria passar por nada disso. Estava, pelo visto, tudo certo para o grande momento.

Caminhou um ou dois quarteirões até a empresa. Pela fachada era uma empresa grande. Pelos carros estacionados, capital era o que não faltava. Talvez por isso mesmo é que tenham tomado tão amável ato de pagar alguns trocados à mais para um estagiário. Fernando se animou ainda mais. Chegara a hora!
Tudo pronto, porém o primeiro teste apareceu. Onde estava a maldita campainha? Como uma empresa de aparência tão saudável não tinha uma campainha instalada? Fernando ficou sem jeito e procurou em volta. Olhou para as paredes da empresa e, sem graça, fez o que qualquer um também teria feito: bateu palmas.

Depois do silêncio tenebroso que seguem as batidas de palmas à frente de um estabelecimento, a porta exageradamente larga se abriu. Uma moça loira e simpática abriu e convidou-o a entrar.
Fernando sentou na recepção ao lado de um outro jovem que lembrava muito um designer também inexperiente. "Aqui está a concorrência então", pensou. Logo viu que a concorrência era acirrada, pois chegaram mais quatro designer jovens e sem-jeito, como ele. Um ou dois trocavam umas palavras. Fernando não era muito de fazer amizade em filas ou salas de espera e por isso ficou quieto.
De uma porta afastada e maior ainda que a da entrada, saiu um sujeito moreno engomadinho, porém de rosto amigável. Chamou os seis rapazes para entrar. Todos de uma vez, como Fernando reparou. Sentaram-se em volta da mesa. O sujeito, que chamava-se Hernandez, apresentou um pouco de si próprio e da empresa à quem um deles teria a imensa honra em trabalhar. Sobre a empresa não há muito o que reproduzir, pois o Hernandez a descreveu de um jeito complicado e que faz qualquer um preferir prestar atenção na velocidade com a qual saía água do filtro quando alguém ia lá e tirava um pouco.
Após muitos minutos torturantes para entender a logística e a importância da empresa em questão, Hernandez decidiu entrevistar os candidatos. Todos na mesma sala, é claro. Não há tempo disponível para entrevistas individuais para estagiários, mas Fernando estava acostumado com isso.

Cada um falou um pouco de si. Fernando foi classificando-os mentalmente: "o experiente", "o rico-que-não-precisa-trabalhar", "o sabe-tudo-que-provavelmente-vai-pegar-a-vaga", "o pior-que-eu", "o tímidão". Na vez de Fernando, Hernandez pareceu gostar de uma experiência anterior com jornais. Isso não era muito do que Fernando se orgulhava, mas se serviu pra entrevista, então valeu a pena, pensou.
Após a conversa toda, Hernandez decidiu que era hora de aplicar uma pequena prova. A vaga era para Webdesigner então nada mais justo do que os candidatos provarem seus conhecimentos técncicos. Hernandez trouxe uma folha pra cada, com 10 questões e o verso livre "para o caso de precisarem de espaço", como ele mesmo disse. Fernando não gostou dessa última observação, mas não quis perder a calma. Esperou tranquilamente o papel e pegou uma caneta. Leu a primeira questão: "O que significa FTP?". Fernando deu um meio sorriso. Isso ele já tinha ouvido falar. Era algo envolvendo um "Protocolo", mas precisou dar uma pequena espiada na prova do vizinho Sabe-Tudo para lembrar-se do começo.

Pronto. Uma questão já fora. Faltavam apenas mais 9. A segunda dizia: "O que significa HTTP?". "Mas que porra!", Fernando pensou. "Pra quê saber o significado dessas coisas?". Era uma dúvida justa naquela hora, pois Fernando era um Designer Gráfico e não um Web Designer. Mas esse é um erro comum que as empresas costumam cometer. Nada que uma entrevista não esclareça melhor. Mas já que estava ali, Fernando queria ser contratado. Decidiu pular para a questão 3 que pedia para explicar o significado de um código um tanto extenso e impossível de ser reproduzido de cabeça. Fernando desistiu. Uma rápida olhada por cima das outras questões revelou que as coisas só pioravam a partir dali. Uma das questões envolvia até um código com caracteres alienígenas arcaicos. Tudo estava perdido. Acordar cedo, fazer pensamento posivito e desligar o celular tinham sido todos atos em vão. Nada compensaria um analfabeto em programação Javascript, MySQL e WirgMarx7.2. Enquanto isso os colegas Experiente e Sabe-Tudo estavam já buscando novas folhas em branco para complementar as respostas. Nem a espiadinha resolveria mais. Até o Pior-que-Eu parecia ir melhor no teste...
Fernando entregou a prova em branco. É mais justo falar "em branco", pois uma única questão respondida na posição número 1 era quase como ter preenchido apenas o nome. Hernandez ainda perguntou aos candidatos no final: "E aí, muito fácil?". Fernando não resistiu a mandar um patético: "Bem díficl, para ser sincero".

Os candidatos foram embora naquele clima misto entre tensão e alegria para quem gabaritou o teste e misto entre tensão e desgosto para Fernando, aparentemente o único à entregar a prova com 2% de cobetura de tinta.

Fernando voltou pra casa cabisbaixo. Selecionou em seu MP3 as músicas mais tristes possíveis. Um bom blues saberia tudo o que dizer ao pobre jovem. Que o mundo é cruel e injusto. Que as mulheres são más e que as entrevistas de emprego são experiências dolorosas das quais um homem nunca sai inteiro. Ele decidiu ir embora a pé, ignorando completamente a distância de 6km que o separavam de casa. A idéia era curtir a tristeza e pensar na vida. Qual seria o próximo passo? Fazer uma entrevista em que era preciso dançar balé? "O pior não é nem dançar. É dançar e ser reprovado", pensou Fernando.

À certa altura da caminhada, lembrou de ligar o celular e contar ao pai o fracasso total daquela manhã. Ligou e contou, ao que o pai disse com calma e sabedoria: "Não era pra você, filho". Isso o animou um pouco e ele voltou pra casa mais conformado com as mazelas humanas. Ao chegar em casa, começou a tirar a roupa semi-social com a qual os designers costumam ir às entrevistas quando de repente seu celular tocou:
- Olá Fernando, aqui é o Hernandez, tudo bem?
Fernando respondeu que sim achando tudo aquilo muito estranho e pressupondo que a hora de ouvir a recusa havia chegado cedo demais. Hernandez continou:
- Então Fernando, sobre a entrevista que você fez aqui hoje conosco... Bem, você foi aprovado. Gostaria de saber se pode começar amanhã?

Fernando não entendeu nada, mas aceitou a proposta e trabalhou naquela empresa por um tempo. Depois, só muito tempo depois, ele percebeu que havia finalmente ingressado no fantástico mundo dos estagiários. O mundo onde tudo é ao contrário. O mundo onde o trabalho é árduo, o salário é curto e as provas em branco valem nota máxima.