
Por incrível que pareça, essa história é verdadeira
Herbert era um cara dedicado. Corria atrás das coisas com vontade e estava sempre em busca de um salário decente. Ele recebia na empresa que trabalhava em torno de 1000 reais pelo seu suado trabalho de marketing. Pode não parecer, mas o marketing faz suar. Profissionais de marketing geralmente trabalham ligados no 220v, não almoçam e muitas vezes não dormem. Não é a área mais saudável de trabalho. Por exemplo o cultivo de batatas, oferece muito mais tranquilidade e longevidade do que o marketing.
Mas Herbert havia caído ali meio que de pára-quedas, e foi aprendendo e fazendo bem seu trabalho. Herbert trabalhava muito bem, na verdade. Era um profissional de pensamento rápido e idéias inteligentes. Foi assim que ele conseguiu seu tão glorioso salário de 4 dígitos - ainda que fosse o menor possível dentro deste seleto grupo.
Eis que um dia Herbert foi chamado pra uma entrevista. A entrevista era numa empresa de Rh terceirizada. Empresas grandes costumam tercerizar seus RHs para não terem o trabalho de entrevistar muitas pessoas. Herbert não gostava desse tipo de processo seletivo, pois, geralmente, envolviam várias etapadas que iam desde dinâmicas de imitação de macacos à testes psicotécnicos práticos. Todos, é claro, em dias diferentes e em horários terríveis para quem já está trabalhando. Resolveu então deixar o dinheiro falar mais alto: "Quanto paga?". A resposta foi um sonoro, ecoante e emocionante: "2... Mil... reais!". Resolveu então apostar na entrevista. Marcou no horário mais cedo possível, assim poderia ir correndo pro trabalho depois. Certamente chegaria alguns minutos atrasado, mas uma boa desculpa como: "minha carteira caiu no bueiro" ou "acordei com dor de barriga" resolveria tudo.
Foi na entrevista e foi bem. A moça do RH terceirizado até o elogiou. Pediu então pra ele retornar outro dia para a próxima fase. Após aquela, disse ela, ele iria para a final, direto na empresa. Saiu de lá e correu para o trabalho. Chegou em torno de 30 minutos atrasado. A desculpa da carteira pareceu convencer seu chefe que deu uma risadinha de alívio como quem dizia: "ainda bem que não foi comigo".
Na etapa seguinte, Herbert foi bem novamente. Saiu de lá e pegou um táxi para chegar no trabalho. A corrida saiu em torno de R$30. Uma conta inesperadamente pesada pra quem vive com a bagatela de mil reais por mês. Tudo bem, ele pensava, quando eu dobrar meu patrimônio para dois mil reais, poderei pegar quantos táxis eu quiser. Alguns dias depois a moça do RH ligou novamente. Dessa vez ela marcou sua proxima entrevista diretamente na empresa. Segundo ela, era a fase final. Depois daquilo seria só alegria. Herbert mal pode esperar.
Quando chegou na empresa, com 20 minutos de antecedencia, aproveitou pra observar o prédio monumental onde a empresa estava instalada. Trabalhar ali devia ser coisa pra poucos. Mas Herbert era bom. Sabia disso ao olhar-se no espelho do elevador e dar um sorriso para si próprio. Logo usaria aquele elevador todos os dias. Ao entrar na empresa, foi recebido por uma garota que apresentou-se como sendo o RH da empresa. Pediu para ele preencher umas fichas, escrever 2 ou três redações com o tema: "Por que quero trabalhar aqui" ou "Quão grande é o universo" e logo depois o entrevistou. Durante a entrevista, a garota informou - para a tristeza de Herbert - que ainda haveriam mais 2 etapas. Tudo bem. O salário compensava as etapas burocráticas e as redações filosóficas. Quando tudo parecia perfeito, a garota fez a pergunta marcante: "Qual sua pretensão salarial?". Herbert achou estranho, mas disse o mesmo que sabia estar combinado desde o começo: "2 mil reais". A expressão da garota revelou um pensamento do tipo: "Não é bem assim que as coisas funcionam" enquanto ela se preparava para dizer: "Está um pouco acima do que pretendemos pagar. Nossa vaga é para um salário de oitocentos reais".

A garota ainda tentou convence-lo à ficar para a dinâmica, ou ao menos para tomar um cafézinho por conta da empresa, mas Herbert a partir daquele momento não conseguia raciocinar corretamente. Tudo em que ele acreditava estava desmoronando junto com todo seu tempo perdido e salários promissores.
E assim ele voltou correndo pro trabalho...