domingo, 4 de abril de 2010

Dinâmicas de Grupo e suas exigências absurdas

E aí estão as notícias que você se cansa de ver quase toda semana nos maiores jornais do país. Culpa do governo? Não tanto. Há um tempo atrás fui fazer uma entrevista de emprego e cheguei à conclusão: se o país sofre de desemprego, 90% dos casos é por causa de uma coisa que ninguém nem repara: as dinâmicas de grupo.
Explico: arrumar um emprego não é fácil, concordo. Assim como também concordo que, para cada cargo, é preciso escolher o melhor candidato. Beleza. Agora fazer processos de quase 6 meses para descobrir o cara ideal para atender os telefones da empresa, já acho exagero. Milhões de brasileiros já garantem o desemprego aí de cara.
- Tem carro pra ficar indo e vindo pra lá e pra cá, durante 6 meses, em 7 prédios diferentes, pagando zona azul em todos eles? Não? Próximoooo!
Ok, ok, pode ser critério da empresa. Mas não me entra na cabeça a tal parte da dinâmica de grupo. Para todas as corporações. Qual o sentido daquilo? Como uma empresa consegue determinar seu futuro presidente com as seguintes perguntas.
- Qual animal você gostaria de ser?
Deus do céu. Um dia me fizeram essa pergunta numa dinâmica. Qual o critério? Se eu respondo pingüim, to apto ao emprego. Se falo ornitorrinco, to fora? Esse eu não consigo entender mesmo. Daí vem aqueles clichês: escolha águia porque é guerreira, visionária, destemida. Ou seja, não importa o que perguntarem, escolha a águia. É isso que a empresa precisa? De um milhão de águias? Mais ninguém diferente? Aliás, certeza que todo mundo ali da sala quer ser uma águia. Ninguém quer ser um porquinho que tem orgasmos de 30 minutos. O lance é voar, comer minhoca e ser visionária. Ah ta! Por isso que está cheio de cobras em antas nas empresas!
- Se você não fosse sua profissão, gostaria de ser o quê?
Resposta que você gostaria de dizer, porém não fala com medo da avaliação: “Gostaria de ser rico, diretor de filme pornô, filho da Angelina Jolie. Qualquer coisa menos isso que faço. “Mas não, você solta a clássica “Não sei o que faria, pois nasci pra isso. Servir café é comigo mesmo”!
-Como você se imagina daqui a 20 anos?
Careca, preocupado com o futuro do meu filho e com problemas de ereção não seria a resposta mais adequada, embora verdadeira. Surgem então as pérolas “Me imagino fazendo aquilo que gosto, feliz com minha carreira e em busca de novos desafios”. Deus do céu, será que todo mundo gosta mesmo de novos desafios? Jura que todo mundo pensa:
-Ah, hoje é sexta-feira, são 18:30 da tarde. Já sei o que vou fazer: adiantar todos os protocolos da semana que vem. Taí um desafio. Vou fazer isso já. Se não der hoje, venho aí no findi.
Se não bastassem as perguntas, tem também as provas interativas, que nada mais são do que juntar os candidatos em rodas, colar fitas em suas costas, desenhar, pintar e fazer coisas que realmente determinam o talento dessa pessoa. O que eles querem contratar? Ajudante do Passa ou Repassa? Moral da história: ganha emprego quem foi bem no pré e não na faculdade.
-Candidato número 46. Você é ótimo para pintar, pra pular corda e pra fazer bichinhos fofinhos em argila. Parabéns, você é o novo diretor da nossa usina nuclear.
Não que eu ache os processos absurdos e tal. Só acho que o grande lance de você entrar em um emprego é ser competente e provar isso de um jeito que não seja fazendo coisas nada a ver. Cadê o currículo? Cadê o histórico? Dá pra imaginar um critério desses para outras profissões?
- Kaká o seu nome, né? Joga bem e tal. Tava vendo. Mas qual animal você gostaria de ser?
-Albert Einstein, né? Tava vendo aqui o seu currículo. Invejável. Mas me responda uma pergunta: se você estivesse em uma ilha deserta com apenas uma caixa de papelão, o que levaria? Um pêssego ou uma ameixa? Isso que vai garantir sua vaga. Cuidado com a resposta. O que você quer ser quando crescer? Se eu fosse uma criança esperta, devia ter respondido R.H.!